SILVÉRIO MARQUES

 General "SILVINO SILVÉRIO MARQUES"
GOVERNADOR GERAL DE ANGOLA
de 25 de Junho 1974 a 24 de Julho de 1974 



OS PRIMEIROS TUMULTOS EM LUANDA

Na noite de 10 para 11 de Julho de 74 dão-se os primeiros incidentes violentos em Luanda.
A descoberta, no musseque Rangel (ás cubatas que se erguem sobre a areia vermelha dos arredores da cidade, os naturais chamavam “Musekes”, que em kimbundu significa: lugar = (Mu) - de areia = (Seke). A palavra foi aportuguesada e ganhou a grafia de musseque), às primeiras horas da madrugada de 11 de Julho, do corpo de um taxista branco degolado, fez explodir raivas e retaliações, desencadeou um grande burburinho, tiros para um lado, tiros para o outro, expulsão violenta dos comerciantes brancos, dos roubos, saques e incêndios dos seus estabelecimentos e casas.
A situação foi de grande tensão e expectativa, provocando ainda mais apreensão numa população branca que via já muitas nuvens no horizonte. As verdadeiras razões de tão violento crime nunca foram bem apuradas, ninguém ainda sabia, em boa verdade, o que queria o Governo de Lisboa. Mas uma certeza ficou, foi da total demissão dos Comandos das Forças Armadas e da sua inteira cedência perante as provocações e violências dos bandos ululantes vindos dos mucesseques.
Poucas horas depois do acontecimento, ao princípio da manhã, na Avenida do Brasil, o ponto de entrada para os negros que vinham dos musseques trabalhar na cidade, grupos de brancos tresloucados, assim o exprimem algumas das suas atitudes, desde as sensatas às desvairadas concentram-se e agridem, insultam e ameaçam quem por ali passesse.

Se o "terrorismo" nasceu pelo egoísmo do Governo de Portugal antes de 25 de Abril de 1974, tudo o que depois subverteu Angola deve-se, única e exclusivamente, às Forças Armadas de Portugal, em Angola. A falta da "palavra de ordem" contribuiu para a passividade dos civis, ante as arremetidas furiosas dos apelidados "nacionalistas negros", nessa altura sem "poder ofensivo" perante o poderio do exército português em Angola.

No seu programa “Café da Noite”, Sebastião Coelho ao fazer a locução diária referiu-se ao acontecimento dizendo alguma coisa que não foi do agrado dos taxistas de Luanda e estes dirigiram-se em grupo, enfurecidos, aos Estúdios Norte, vociferando ameaças.
 
"A morte corria atrás de mim nessa tarde calorosa e eu fugia caminhando sobre os telhados da baixa
de Luanda.
Era um perigoso jogo de escondidas. De vez em quando espreitava e via como me espreitavam, de arma aperrada, franco atiradores subidos às torres da Sé Catedral e às varandas dos edifícios da Sotecma e do Totobola. Agachado e assustado, eu corria de um lado para o outro, resvalando nas telhas e nos tijolos carcomidos dos pátios velhos, movendo-me sobre os edifícios antigos da rua dos Mercadores. Era uma fuga solitária e sem destino até que notei os sinais que me faziam desde o janelão das águas furtadas do prédio da Minerva.
Não seria fácil chegar até ali, tão alto, mas aquela era a única salvação possível. Pouco antes do meio-dia, a Travessa da Sé, a Calçada dos Enforcados e o Largo do Pelourinho, todo os espaços à volta dos Estúdios Norte eram um fervilhar de gente agitada e preocupada, perguntando: - “o que é que se passa”, - “o que é que se passa”
O assunto começou cerca das onze horas da manhã, quando ouvi um burburinho infernal, na rua. Aproximei-me da janela do meu gabinete, no primeiro andar e vi um mar de carros de tecto verde descendo a Calçada dos Enforcados. Eram táxis que chegavam em caravana, apitando e apitando e estacionavam em qualquer lado, a trouxe-mouxe. Os taxistas abandonavam as viaturas e vociferavam todos e ameaçavam e eu não entendia aquele tumulto e quis ir à varanda ver o que se passava. Mal tive tempo para recuar, entrar e fechar a porta.
Em segundos começaram a partir vidros, a forçar as portas e a gritar. – “Onde é que está esse cão? Onde é que está esse f...p...?”. –“Agarrem o gajo”. Vi que todos estavam armados com chaves de fenda enormes e ferros desmonta - pneus e que vinham por mim. Ouvi dois ou três tiros e sem perda de tempo corri para os fundos da casa em direcção a uma segunda varanda nas traseiras do edifício, decidido a saltar dali para o chão. Era muito alto, um primeiro andar antigo que valia por dois ou três, mas não tinha opção. Ou saltava ou me desfaziam ali mesmo. Atrás de mim vinham duas ou três pessoas. Sem olhar tomei balanço e saltei contra uma parede interior e tratei de escorregar por ela e num ápice estava no chão, no quintal de um negócio de pneus, correias e outros elementos de borracha que se guardavam em pilhas. Havia tal quantidade e estavam apilhados de tal forma que apenas deixavam uma estreita passagem desde o fundo até à porta da rua.
Dentro do negócio havia três empregados negros que mal me viram me reconheceram e se perfilaram lado a lado formando barreira. Mandaram-me atirar para o chão e deitar-me atrás deles. Nas traseiras havia um griterio ensurdecedor. Soube depois que vários dos que saltaram atrás de mim partiram as pernas. Caíam uns em cima de outros e era enorme a confusão. Dois ou três taxistas puderam saltar bem e saíram a perseguir-me. Entraram na loja e os empregados, sem falar, limitaram-se a apontar para a rua e eles passaram e correram sem ver-me. Passada a primeira leva de perseguidores, os três empregados levaram-me para trás e fizeram-me saltar uns muros, a partir dos quais iniciei a minha passeata pelos telhados da baixa.
Nos Estúdios Norte era a loucura desencadeada. O pessoal estava atónito. Os taxistas portugueses, enfurecidos, partiam tudo. O meu gabinete ficou arrasado. Não sobrou nada. Depois chegou a polícia mas só olhou. O alto-comissário Silvério Marques não disse palavra e houve gente armada que subiu a lugares altos para me caçarem. Tratava de escapar-me quando vi que me faziam sinais lá em cima, numa janela.
Para chegar a esse lugar devia passar outra vez pela parte de trás dos Estúdios. Era o único caminho e por sorte eu conhecia bem o lugar. Arriscando tudo por tudo, trepei pelas apodrecidas escadas de madeira que me apontavam e fui subindo, subindo, degrau a degrau, as escadas rangendo, empinadas e mal seguras por uma corda de sisal que também rangia. Por fim, quatro, cinco, seis mãos tomaram-me dos braços e puxaram-me. Roçando barriga e joelhos no parapeito da janela fui chupado para um casarão escuro e com cheiro a mofo. Sem demora, as mesmas mãos que me ajudaram a subir, acomodaram a rede de galinheiro que protegia o ventanal e cozendo-a com arame, apagaram os vestígios da minha passagem por ali.
Só depois desta medida de precaução me fizeram sentar sobre uma rima de impressos velhos e me deram um copo de água e me tranquilizaram. Eram os tipógrafos da Minerva que, vizinhos solidários, me protegiam. Já meio refeito do susto e das canseiras pelos telhados, permaneci ali várias horas, com eles, metido entre prateleiras desengonçadas e polvorentas. E foi assim até ao anoitecer, ouvindo o que me narravam da minha própria aventura e conversando e tomando café.
Contaram-me que na rua investigavam sobre o meu paradeiro. Uns diziam que eu não estava no lugar, outros juravam que me tinham visto. Entretanto chegavam amigos meus e ouvintes e gente preocupada. A notícia correra, célere, pela cidade: “os taxistas atacaram os Estúdios Norte para matarem o Sebastião Coelho”. Entretanto, trouxeram-me uma bacia com água, sabão, uma tesoura e gilette para cortar a barba. Escanhoado, nem eu me reconhecia. Muito menos me havia de reconhecer quem nunca me havia visto de cara rapada. Usava barba há muitos anos.
Só mais tarde, já ao anoitecer, as gentes da Minerva me trouxeram o avental e um gorro de padeiro, roupas que vesti e me deixavam com figura de palhaço. Ainda por cima enfarinharam-me a cara e só depois saí da padaria da Rua dos Mercadores com um saco de pão às costas para meter-me na furgonete onde já me esperava o Viana da CDA. Mal subi, arrancamos para o musseque Prenda. A essa hora, ao que contou o Zé Viana, a zona dos Estúdios Norte já estava tranquila e despejada de gente.
Em casa amiga do Prenda esperavam-me um banho e um jantar apetitoso, mas nem pude reconfortar-me. Apenas tive tempo para chamar por telefone a minha amiga Madalena para que corresse a alertar os meus amigos Mendes de Carvalho, Kinjinji e Carlos Madaleno. Dizer-lhes que estava vivo e que eles deviam estar alerta, porque era previsível que nessa mesma noite os taxistas atacassem os musseques. Essa era a minha grande preocupação agora. Estavam enraivecidos e estavam armados e decididos a um massacre.
Quando cortei a ligação já passavam a buscar-me o Orestes Pereira da Silva e o César Camacho para me levarem ao aeroporto. Havia ali gente à minha procura e até dentro do próprio avião me buscavam. Olhavam para mim mas não me reconheceram. Chegava ao fim o dia 11 de Julho de 1974, um dia de terror. Nessa noite os musseques de Luanda foram atacados por uma horda de assassinos. Na tarde seguinte, em Lisboa, seria recebido em São Bento pelo coronel Melo Antunes e outros membros da Junta de Salvação Nacional a quem pedi que tirassem de Angola o general Silvino Silverio Marques, mais conhecido pelo “SS”.
Sebastião Coelho

Os tumultos não se ficaram por ali. Cerca de meio milhar de manifestantes, negros brancos e mestiços, dirige-se ao palácio do governador, que se limita a apelar à calma. A manifestação é dispersada pela polícia de choque, à vista do general Silvino Silvério Marques que observava da varanda do palácio.
Angola é de todos, queremos paz, gritavam, muitos tinham acreditado que o Governador ia impor a ordem. Não foi assim e Luanda torna-se numa cidade cheia de dúvidas quanto ao futuro e foi abalada, por violentos confrontos. Face à passividade das autoridades, ao fim da tarde um autocarro, é atacado, a tiro e incendiado. Várias pessoas são mortas.
A violência prossegue até ao fim da manhã do dia seguinte, quando é decretada a proibição de circulação de veículos motorizados, e o recolher obrigatório.
Assiste-se nos dias seguintes, aos primeiros portugueses que viajam para a metrópole com receio do pior.

PLANO PREMEDITADO

A nomeação do general Silvino Silvério Marques para governador-geral foi logo de início contra a vontade do general Costa Gomes. Este, de comum acordo com os oficiais esquerdistas da Comissão Coordenadora do MFA em Lisboa e em conjunto com os elementos do M.P.L.A., preparam amotinações de grande amplitude, destinadas a pôr em cheque o recém-chegado governador. A realização, em Luanda, do Campeonato Mundial de Hóquei em Patins é escolhida como um dos momentos ideais para desencadear os tumultos. Não se sabe como tomou conhecimento do plano, mas o Governador Silvério Marques resolve anular a realização do campeonato em Luanda e transfere-o para Lisboa. Os membros da Comissão Coordenadora do MFA são apanhados de surpresa e vêm-se obrigados a improvisar um incidente.

"Tudo indica que o assassínio do taxista obedeceu a um plano preparado com antecedência.
"Em Junho, exactamente no dia 10 de Junho, houve uma reunião de pessoas, escolhidas segundo algum critério, que desconheço, no que era o Colégio Lisboa, Perto do Hospital Militar".
Aí, "um representante do Dr. Agostinho Neto - recordo-me que era africano, mas tinha um nome holandês - alertou-nos para a possibilidade de um grande conflito armado na cidade de Luanda. Estava a preparar-se a realização do Campeonato do Mundo de hóquei em patins, já havia muitos estrangeiros na cidade. Ele anunciou que haveria um movimento, a partir de homens radicais de direita, brancos e negros, no sentido de desencadear a violência, denunciando um conjunto de operações que tinham sido detectadas". "Então nós, os que estávamos nessa reunião, decidimos juntar um grupo e falar com o arcebispo de Luanda, para que nas missas fosse feito um apelo à tranquilidade e à paz". "Algumas das tais operações anunciadas aconteceram. Só que não tiveram o impacto que as pessoas esperavam. Houve uma, que desencadeou depois toda a confusão em Luanda, o assassínio do taxista, que fora também prenunciada pelo enviado de Agostinho Neto. Quando nos procurou, avisou que poderia ser assassinado um branco, pessoa indiscutivelmente aceite pela sociedade luandense. E foi assassinado o taxista, duma maneira estranha, num musseque". A partir daí, "a cidade entrou num grande desequilíbrio, e  em Julho, já havia um êxodo muito grande, as pessoas já estavam todas amedrontadas com a confusão. Estabeleceu-se um clima de pânico, já havia a sensação que aquilo podia dar origem a um grande êxodo". No mês seguinte, Agosto, 30 mil brancos viajam para Portugal. Após os incidentes, a 22 de Julho, o general Silvino Silvério Marques é mandado regressar a Lisboa, e nomeada uma junta militar, encabeçada por Rosa Coutinho. As tropas portuguesas tomam o controlo da situação".
Professor Nuno Grandre
 



O GENERAL SEM-HONRA

Enquanto Silvino Silvério Marques, não desejou "aviltar" com mera despromoção um camarada general; enquanto, lhe deu a mão para não passar à Reserva, requisitando-o até para Comissão; enquanto o considerava e o tratava com lealdade, o Amigo protegido, general Joaquim António Franco Pinheiro, Comandante-Chefe das Forças Armadas de Angola, na sombra e de acordo com o M.F.A. de Angola, ia traindo o Governador-Geral.
Na sequência do seu procedimento o general. Francisco Pinheiro, enviou a Costa Gomes, em 17.Julho.74, um Relatório "Secreto Pessoal", acompanhado de um "cartão de visita", que define não só, a tibieza e a subserviência deste oficial, como uma traição vergonhosa ao então governador-geral. Nesse Relatório e apenso estava um documento, elaborado em reunião do gabinete das Forças Armadas em Angola, e que no seu ITEM 1, propunha: "que seja demitido o actual Governo-geral de Angola e todos os governadores do distrito". No nº. 5, era dado um prazo de 72 horas, contadas desde a sua recepção e conhecimento e no nº. 6,dizia-se: "Ora não cumprido o prazo referido em 5., desta proposta, o M. F.A. de Angola assume implicitamente a obrigação da tomada das medidas adequadas, ou julgado como tal, face à gravidade do actual momento em Angola e à sua previsível evolução que veio a inaugurar um novo e triste, período na História de Angola!
SECRETO-PESSOAL
Luanda, 17 Jul 74 Exmo. Senhor General Chefe EMGFA
1.            Quando assumi as funções de Comandante-Chefe, rodeei-me de 8 oficiais do MFA, para me auxiliarem, em acumulação de serviço, na integração dos problemas deste Comando no espírito do Movimento.
Igual procedimento se seguiu em todos os escalões dos três ra­mos, sendo notáveis os serviços que tais elementos têm prestado, dentro da maior lealdade e com integração completa na hierarquia militar.
2.            A nomeação do actual Governador-Geral (de quem sou ami­go pessoal) veio, contra a minha expectativa, perturbar o esquema
montado, visto que, por raz
ões várias que não tenho tempo para de­talhar, o MFA em Angola não crê que o Governador-Geral esteja in­-
tegrado no esp
írito do Movimento, atribuindo às suas atitudes muita responsabilidade no deplorável panorama político-militar de Angola.
3.   A situação tem-se agravado progressivamente, a tensão MFA-GGA tem crescido e eu tenho tentado por todas as formas possíveis e leais dissuadir os elementos do MFA de tomarem atitudes graves. Esgotei a minha capacidade de argumentação e vejo-me na situação de, ou passar o problema a Vá. Exa., ou arriscar-me a atirar oficiais que estimo sinceramente, para atitudes tomadas clandestina­mente, ficando eu como inimigo, quando afinal tento apaziguar e salvar uma situação crítica.
4.            Hoje, foi-me presente o documento que junto e representa a vontade inabalável, segundo me dizem, dos oficiais do MFA. Não vejo outra solução que não seja fazê-lo chegar às mãos de Vá. Exa., visto estar esgotada a minha capacidade de argumentação.
Sinto e foi-me transmitido que os oficiais não recuarão na ati­tude anunciada e, por isso mesmo, peço esclarecida e urgente inter­venção de Vá. Exa. num assunto que reputo extremamente grave.
5.           Se Vá. Exa. não intervier, a minha posição será a de tentar controlar, muito lealmente, os acontecimentos. E isto (seja qual for o desenrolar do processo) só até que possa subsituir-me por quem tenha talento político para resolver problemas para os quais não es­-
tou preparado. Sinto-me extremamente fatigado, f
ísica e moralmen­te, e Vá. Exa. desculpará não me ter sido possível fazer melhor.
6.            Finalmente, devo acrescentar que não transmiti o problema ao Governador-Geral, pela simples razão de que receio que ao fazê-lo se antecipe uma crise que em minha opinião só Vª.. Exa. pode evitar.
Com os meus melhores cumprimento
O CCFAA
 (assinatura)
17.Jul.74
SECRETO
Documento elaborado em reunião do Gabinete do Movimento das For­ças Armadas de Angola, assistido por delegados do mesmo na R M A até ao nível sector.
Atendendo a que:
1. O Programa do Movimento das Forças Armadas preconiza "o lança­mento dos fundamentos de uma política ultramarina que conduza à paz", a par do saneamento das anteriores estruturas;
2. Não se verificou até à data em Angola, qualquer atitude ou medida a nível de Governo Geral, que dê cumprimento ao exposto em 1.;
3. Pelo contrário, as estruturas governamentais continuam a ser servi­das por indivíduos que se distinguiram no anterior regime;
4. O descontentamento anteriormente expresso é comungado não só pêlos signatários, mas também pela maioria da população, que o tem deixado bem claro em várias manifestações escritas que têm chegado ao conhecimento deste Gabinete;
5. Dentro do espírito do Programa do Movimento das Forças Arma­das, o processo de descolonização só pode ser levado a cabo com a participação directa dos elementos locais;
6. O Movimento das Forças Armadas se comprometeu a garantir a adopção das medidas preconizadas no seu Programa, compromisso que não pode ser assumido sem a sua comparticipação directa no processo Governamental, à semelhança do CE da Metrópole;
Propõe-se:
1.  Que seja demitido o actual Governo Geral de Angola e todos os Governadores de Distrito;
2 Que seja nomeado um Governador Geral para Angola por S. Exa. o Ministro da Coordenação Inter-Territorial, com a aprovação do GMFA
deste Estado;
3. Que o Governador Geral nomeado, designe o elenco Governamental entre elementos locais e/ou militares, com prévio sancionamento do re­ferido Ministro e dó citado GMFA;
4. Que o Governo de Angola seja assistido por um órgão consultivo, tipo Conselho de Estado, composto em maioria por elementos do MFA em Angola;
5. Que a proposta enunciada em 1., tenha execução no prazo de 72 (setenta e duas) horas, contadas desde a sua recepção e conhecimento;
6. Que não cumprido o prazo referido em 5., desta proposta, o MFA em Angola assume implicitamente a obrigação da tomada das medidas adequadas, ou julgadas como tal, face à gravidade do actual momento em Angola e à sua previsível evolução.
Em 19.Julho.74., Costa Gomes, tão sinistro como pérfido, respondeu ao General. Pinheiro. Original assinado e en­viado ao seu destinatário em MP pelo comandante de Bor­do da Missão FAM Lx LD, de 17/7/74. Conspirava-se, abertamente, nas costas do Governo Geral!
Sem respeito por um alto dignitário da Nação e sem vergonha por parte dos comparsas desta nojenta conspiração.

SECRETO
EMGFA, 19 de Julho de 1974
Acuso recepção da sua carta de 19 de Julho e em relação ao problema que expõe informo o seguinte:
1.  A Comissão designada por mim e pelo Ministério da Coor­denação Inter-Territorial para se deslocar a Angola a fim de apreciar "in loco" a situação e colaborar com o Governo Geral e com o Co-mando-Chefe nas medidas a tomar para a solução da crise é portadora de instruções especiais que atendem ao assunto versado na sua carta.
2.  É minha intenção satisfazer o seu pedido pessoal, porém, não considero que seja, nesta data, conveniente fazê-lo, pelo que tal terá de ser adiado para melhor oportunidade.
3.  Está a ser objecto de estudo a solução que mais convém para o problema, solução essa que terá de ser adoptada nos Estados de Angola e Moçambique, a fim de evitar que se repitam incidentes como os que ocorreram em Luanda.
Silvino resolve mandar a Lisboa, o seu Secretário de Estado da Comunicação Social e Turis­mo, major Mariz Fernandes. Este contacta com Costa Go­mes e Almeida Santos. Pretende saber o alcance do conteú­do do telegrama. Costa Gomes denega o seu envio. Almei­da Santos, seráfico e melífluo, silencia. Mariz Fernandes em face da posição assumida por Costa Gomes, saca do te­legrama e mostra-o ostensivamente! Apanhado em flagrante na mentira e na traição Costa Gomes, perturbado replica: "Como é que anda na algibeira com um documento secre­to? "
O Major Mariz Fernandes retorquiu-lhe:
"Como membro do Governo que sou, o telegrama, para mim, não é secreto. Além disso, como o próprio yexto manda dar conhecimento das medidas nele preconizadas, entendo que, a partir deste momento, deixou de ser secreto, não é verdade?"
Venceslau Pompilio da Cruz